domingo, 22 de novembro de 2009

SER HUMANO OU ANIMAL?

Estou lendo, nesse tempo, “SABER CUIDAR: Ética do humano-compaixão pela Terra”, de Leonardo Boff, livro esplendoroso e apaixonante. Neste, entre muitos conteúdos, o autor faz uma análise do que seja o homem por várias perspectivas, que embora simples se constituem profundas e que julgo pertinente compartilhar com vocês. Ei-la:

“Podemos responder de muitas e diferentes maneiras à pergunta: o que é o ser humano? A questão e sua correspondente resposta encontram-se subjacentes nas formações sociais, nas diferentes visões de mundo, nas diversas filosofias, ciências e projetos elaborados pelo ingênio humano.
A resposta latente e inconsciente, porém, se torna patente e consciente, quando formulamos a seguinte questão: que imagem de ser humano está sepultada numa cultura como a nossa que privilegia acima de tudo a racionalidade científico-técnica? A resposta natural será: o ser humano é um animal racional. Que imagem se oculta no modo de produção capitalista e na economia exclusivamente de mercado? A resposta óbvia será: o ser humano é essencialmente um ser de necessidades (um animal faminto) que devem ser satisfeitas e, por isso, um ser de consumo. Que imagem de ser humano subjaz ao ideal democrático? A resposta conseqüente será: o ser humano é um ser de participação, um ator social, um sujeito histórico pessoal e coletivo de construção de relações sociais o mais igualitárias, justas, livres e fraternas possíveis dentro de determinadas condições histórico-sociais. Que idéia de ser humano está pressuposta na luta pelos direitos humanos? A resposta clara será: O ser humano vem dotado de sacralidade porque é sujeito de direitos e de deveres inalienáveis e se mostra como um projeto infinito. Que compreensão de ser humano está subentendida no projeto científico-técnico de denominação da natureza? A resposta mais provável será: o ser humano se entende (ilusoriamente) como o ápice do processo de evolução, o centro de todos os seres (antropocentrismo) e considera que as demais coisas, especialmente a natureza, só tem sentido quando ordenadas ao ser humano; ele pode dispor delas ao seu bel-prazer. Quando o místico São João da Cruz diz que o ser humano é chamado a ser Deus por participação, que imagem pressupõe do ser humano? A resposta ousada será: o ser humano tem a capacidade de dialogar com o mistério do mundo, perguntar por um último sentido e entrar em comunhão com Ele e ser um com Ele. Por fim, que imagem de ser humano projetamos quando o descobrimos como um ser-no-mundo-com-outros sempre se relacionando, construindo seu habitat, ocupando-se com as coisas, preocupando-se com as pessoas, dedicando-se àquilo que lhe representa importância e valor e dispondo-se a sofrer e a alegrar-se com quem se sente unido e ama? A resposta mais adequada será: O ser humano é um ser de cuidado, mais ainda, sua essência se encontra no cuidado. Colocar cuidado em tudo o que projeta e faz, eis a característica do ser humano”

Essa análise de Boff sobre o ser humano, ao meu ver, nos permite compreender, um pouco melhor esse tempo inumano que vivemos hoje. O ser humano se transformou num ser compartimentado, deixou de ser um inteiro, um com o todo, hoje ele é segundo a ótica que é visto, o que quer dizer que ele pode ser muitos à medida do que lhe é conveniente. Esse homem é egocêntrico e o egocêntrico nunca vê o próximo como próximo. Se não tem um próximo com o qual se preocupar/compartilhar, o que sobra é “EU”, se assim o é, exclui-se a possibilidade do CUIDADO, que é o que nos faz humano como humano tem que ser.
Foi o Homem-Deus, Jesus, quem nos disse: “…Ama o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 19:19), pois me parece, que só assim o ser humano continuará humano até o fim!
Eis o nosso grande desafio; sermos humanos (nesse tempo de veloz desumanização) como o Deus-Homem o foi: Um Ser Humano de cuidados e afetos. Que Ele nos ajude. Paz.
Pr. Neil Barreto